O concerto do dia 23 de abril foi ocasião de festa. Celebraram-se os oitenta anos dos Concertos para a Juventude, o projeto da Orquestra Sinfônica Brasileira voltado, como disse o maestro Roberto Tibiriçá, a formar novas plateias. Criar jovens ouvintes.
Fotografias: Renato Mangolin
É um dos raros projetos culturais brasileiros que desfrutam do privilégio da permanência. Fruto do incansável esforço das gerações que passaram pela OSB na luta pela efetivação do seu propósito. Festejar os oitenta anos dos Concertos para a Juventude não se resume a apenas um momento de alegria. É mais. Significa preservar a memória, valorizar nosso patrimônio e patrocinar o direito à cultura.
Além de sua principal missão: promover a descoberta.
O “Primeiro Grande Concerto dedicado à Juventude Brasileira” estreou em 25 de abril de 1943. Neste ano, foram promovidos nove concertos da série. Os programas, desde a origem, eram acompanhados de explicações sobre o papel e o valor dos instrumentos da Orquestra, bem como a história das composições e biografia dos compositores.
Logo no início, um sucesso estrondoso. Reuniu mais de 20.000 alunos das escolas públicas em 1943. Junto à estreia, foi realizado um concurso de redação. Os melhores trabalhos sobre a experiência individual do concerto e a obra favorita do repertório ganhavam assento cativo durante um ano para os concertos de domingo da OSB. O campeão dos campeões ganhava ainda uma viagem para qualquer lugar do Brasil pela então companhia de Navegação Aérea Brasileira, a NAB. Descobrir o Brasil não era pouca coisa naquele tempo.
Entre 1965 e 1984, o projeto ganhou o Brasil. A Rede Globo expandiu a OSB promovendo a transmissão semanal dos Concertos para a Juventude enfocando não apenas o repertório tradicional, mas também a música regional e folclórica. Fez parte da rotina de domingo. A música da OSB entrou nas casas dos brasileiros.
Com o tempo, os Concertos para a Juventude passaram a ser não apenas um momento em que os jovens descobriam algo novo. Com a introdução de concursos, era o público que descobria seus jovens talentos. Os vencedores dos concursos tocavam com a Orquestra no concerto de domingo. Como disse a pianista Linda Bustani, os Concertos para a Juventude eram a rotina do jovem músico em início de carreira. Um excelente início de vida profissional.
Este foi o caso do jovem Fabio Martino, hoje solista desta celebração de oitenta anos. Aos quinze, em 2003, estreava pela primeira vez junto à OSB em um Concerto para a Juventude com o Concerto nº 2 de Shostakovitch. Recompensa pelo concurso de solistas que venceu. Aplaudido por Nelson Freire, que estava na plateia.
Fotografias: Renato Mangolin
A promessa de 2003 retorna como veterano vinte anos depois com o Concerto nº1 de Rachmaninoff, compositor que completou 150 anos de nascimento junto ao aniversário de 80 anos dos Concertos para a Juventude. Martino foi ovacionado pelos mais novos descobridores do mundo da música erudita. A maioria presente assistia a um concerto pela primeira vez com a possibilidade de aprenderem mais sobre esse mundo e, assim, se encantarem.
Felicidade maior para o jovem é descobrir algo novo. Crianças encheram as plateias ouvindo atentamente, buscando aprender mais sobre os instrumentos e o universo da música erudita. Uma experiência que agrega a formação dos valores com uma genuína alegria.
Com seus oitenta anos, os Concertos para a Juventude são um olhar para o futuro. É oportunidade para se perguntar quais valores queremos formar na geração seguinte. Dada sua tradição, os Concertos para a Juventude confirmam sua vocação de se manter jovem a cada vez mais tempo.
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